segunda-feira, 8 de maio de 2017

O incrível caso da escova de cabelos rosa



Com nove anos, eu me apaixonei por uma escova de cabelos rosa. Gosto de falar do nosso caso.
Ela tinha as cerdas brancas e duras e o cabo não era lá muito longo.
Um dia, deitada sozinha na minha cama, esfreguei meio por acaso a escova lá mesmo onde vocês estão pensando. Tive meu primeiro orgasmo. Gente, foi um susto, uma imensa surpresa e uma delícia.
Eu não sabia o que era. Só gostei de sentir. Nunca tinha ouvido falar em gozar, masturbação, orgasmo clitoriano, vaginal, anal, carnal, oral, braçal, nada. Éramos só eu e a escova, em nosso relacionamento muito clandestino! Ainda brincava de bonecas. Agora, tinha a escovinha e o clitóris (e a gente nem tinha sido formalmente apresentaduuus, não sabia que o bichinho existia e nem pra que raios servia).
Era assim secreto o nosso romance, porque com uns três, quatro anos, corri para contar pra minha mãe que era gostoso brincar com o chuveirinho do banheiro. Eu lembro da cena rs até hoje. Resultado? O pobre do chuveirinho foi arrancado prematuramente da parede da residência. Só retornou uns dez anos depois. Eu demorava naquele banho, hein? Assim é que a gente vai se "tornando mulher". Nas castrações da vida.
Não, não... a escova rosa era minha, só minha. Mas demorou para ligar lé com cré. Relacionar o que eu sentia a um nome. Não tinha com quem falar. O medo de apanhar, e depois a vergonha, eram os impeditivos.
Fiquei muito chocada quando descobri que existia isso de penetração. Pra quê? Eu hein
Mas o choque maior mesmo veio quando soube que boa parte das mulheres nunca, jamais, em tempo algum, conseguia ter um orgasmo.
A essa força misteriosa que me salvou, apesar de toda repressão e ignorância, meu muito obrigada ❤️
Mulheres, eu vos digo: descubram-se.
Dedico esse texto a amiga Bel Saide do incrível blog Ginecologia Natural, e a minha filha que hoje me perguntou como nasciam os bebês.