segunda-feira, 8 de maio de 2017

O incrível caso da escova de cabelos rosa



Com nove anos, eu me apaixonei por uma escova de cabelos rosa. Gosto de falar do nosso caso.
Ela tinha as cerdas brancas e duras e o cabo não era lá muito longo.
Um dia, deitada sozinha na minha cama, esfreguei meio por acaso a escova lá mesmo onde vocês estão pensando. Tive meu primeiro orgasmo. Gente, foi um susto, uma imensa surpresa e uma delícia.
Eu não sabia o que era. Só gostei de sentir. Nunca tinha ouvido falar em gozar, masturbação, orgasmo clitoriano, vaginal, anal, carnal, oral, braçal, nada. Éramos só eu e a escova, em nosso relacionamento muito clandestino! Ainda brincava de bonecas. Agora, tinha a escovinha e o clitóris (e a gente nem tinha sido formalmente apresentaduuus, não sabia que o bichinho existia e nem pra que raios servia).
Era assim secreto o nosso romance, porque com uns três, quatro anos, corri para contar pra minha mãe que era gostoso brincar com o chuveirinho do banheiro. Eu lembro da cena rs até hoje. Resultado? O pobre do chuveirinho foi arrancado prematuramente da parede da residência. Só retornou uns dez anos depois. Eu demorava naquele banho, hein? Assim é que a gente vai se "tornando mulher". Nas castrações da vida.
Não, não... a escova rosa era minha, só minha. Mas demorou para ligar lé com cré. Relacionar o que eu sentia a um nome. Não tinha com quem falar. O medo de apanhar, e depois a vergonha, eram os impeditivos.
Fiquei muito chocada quando descobri que existia isso de penetração. Pra quê? Eu hein
Mas o choque maior mesmo veio quando soube que boa parte das mulheres nunca, jamais, em tempo algum, conseguia ter um orgasmo.
A essa força misteriosa que me salvou, apesar de toda repressão e ignorância, meu muito obrigada ❤️
Mulheres, eu vos digo: descubram-se.
Dedico esse texto a amiga Bel Saide do incrível blog Ginecologia Natural, e a minha filha que hoje me perguntou como nasciam os bebês.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Rodada e casada

Robin Rinaldi
Uma manchete chamou minha atenção no começo dessa semana. Ela dizia o seguinte: “Mulher tira folga do marido e vai para a cama com estranhos durante um ano”.

A matéria conta sobre o experimento sexual de Robin Rinaldi. A americana de 44 decretou um ano de esbórnia organizada para dormir com quem quisesse. Como não é boba nem nada, vai lançar um livro sobre a interessante brincadeira: "The wild oats project". Vale dizer que o mesmo valia para o marido, ok, fofas?

..assuntinho que sempre rende...

No mesmo dia em que eu li isso, reencontrei uma amiga. Nos conhecemos há muito tempo, mas da última vez em que a gente tinha se visto, ela estava, sei lá, desanimada.

Ela não me disse isso, eu que tou falando. Sei que ela não vai se aborrecer se ler essas besteiras que eu escrevo, porque sabe que é verdade. Nós duas almoçamos juntas e até discutimos esse assunto, de leve. Ela tinha acabado de ter segunda filha naquela época. Com um bebê em casa e outra menina, ainda pequena, fazia graça da coisa toda, dizendo que estava naquele momento meio de surto “mãe” em que tudo que a mulher consegue fazer é pensar em prover. Ou seja, putaria, meus caros, nem pensar!



Nessa sexta-feira à noite, a cara dela era outra. Mais magra, de óculos e cabelos desgrenhados, e um gato a tiracolo no qual ela estava literalmente dependurada. Eu olhei e pensei: “uh-lá-lá”. Ela parecia bastante íntima e à vontade com o moço, o que me causou certa estranheza. Afinal, não tive notícias da separação... Aí ela veio e sussurrou no meu ouvido: “hoje é minha sexta libertária”. Aham. Mas que coisa é essa, hein?

Um ano, umas sextas-feiras, acho que não importa. Não posso discutir com a moça do livro, infelizmente ela está lá nos Estados Unidos da América. A matéria diz que ela ficou irada porque o marido decidiu fazer uma vasectomia quando ela ainda queria engravidar. Questiona até que ponto esse processo de liberação sexual dela não seria, na verdade, uma forma de vingança. Sobre isso, vou ser direta: acho digno. Bem mais digno que ficar choramingando pelos cantos (que talvez fosse o que a boboca que vos fala, fizesse), os dois, aliás, fizeram tudo de comum acordo e vamos pensar aqui que o marido também deve ter se divertido, não? Mas como bons americanos, a parada entre eles parecia bem cheia de regras.



Recorri à amiga: “vem cá, me conta mais aqui sobre esse lance de sexta-feira libertária, please”?

E ela contou. Os dois decidiram fazer isso porque se conheceram muito novos e acham que é importante ter experiências com outras pessoas. Já tinham pensado nisso, mas a provocação veio e a vontade falou mais alto quando viram outro casal, muito próximo, fazer a mesma coisa. Eles nunca treparam tanto na vida, estão felizes. Não têm regras sobre número de encontros (ao contrário do casal da matéria, que limitava a duas saídas). A coisa pega, segundo ela, quando um dos dois passa a noite fora. O que eles fazem quando isso rola? “Cuidamos um do outro. Foi o que combinamos”.


A gente, verdade seja bem dita, costuma mais imediatamente associar liberdade sexual e solteirice. Casamento, quase sempre, é sinônimo de monogamia e, alguns, uma boa parte, sejamos francos?, de monotonia e preguiça.



Sou adepta do seguinte: vale, vale tudo. Vale o que vier, vale o que quiser. Só não vale ser infeliz. Só não vale a preguiça. A caretice também não rola. E, no caso dos meus amigos, não vale se apaixonar.

Esse ponto é polêmico. Me levou a discutir com outra amiga, que desdenhou: “Isso é estúpido”. Acho não. É a única regra que realmente importa, mesmo que seja simbolicamente. Ela está ali para dizer que se trata de um casal, e que o amor deles é coisa séria.



Minha amiga quer me levar para passear com ela em uma de suas sextas-feiras. Eu mal posso esperar.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

O dia em que você descobre: deixei de ser transante (ou quase)



Pode acontecer com qualquer uma, pode acontecer num ensaio de escola de samba, numa boate lotada, numa festa familiar. Mas sempre tem aquele dia em que a ficha cai e você descobre que seu valor no cruel mercado da azaração está igual às ações da Petrobras: em franca decadência.


E isso acontece até com as atrizes hollywoodianas, que passam de gementes mocinhas a balzacas mamães (ou tipo Adriana Esteves, a moça do lençol em Renascer, como mãe de Sophie Charlotte). Chega aos poucos, mas a evidência normalmente se dá em rodinhas de conversa.

Gatinhas: não dá para competir com elas

As meninas de 20, 20 e poucos passam a ser o centro das atenções com seus cabelos esvoaçantes, brilho no olhar, pele e pernocas perfeitas, nenhum pé de galinha e todas as informações sobre a festa maneira, o livro da onda e o novo gadget-mais-que-tudo.

Comigo a evidência se deu numa sexta à noite, num barzinho. Enquanto minha amiga (casada) gastava as horas enchendo muito a cara de cerveja, eu estava no meu momento beber, mas também checar os bofes ao redor. Olhando quem passava, eu estava lá, em pé, na calçada, meio sozinha e meio acompanhada. Conversei com muita gente mais ou menos interessante. Exibi meus conhecimentos de cultura e línguas, exalei alguma animação.

Mas, confesso, tinha uma preferência clara: um jovenzinho (ou nem tão jovem assim) colega de profissão. Dei então um jeito de me aproximar. O sujeito deu papo - ou assim entendi. E até ficou muito surpreso quando se deu conta de que eu era uma mulher rodada. Ali, seguindo meus instintos até então válidos, pensei: 'tá no jogo'. Só que não.

O tempo passou, ele me admirou, elogiou, mas foi mesmo pedir o telefone de umas meninas de 20 anos que estavam do outro lado da rua. De minha parte, fui procurar minha amiga que tinha sumido pela centésima vez, puta, a enfiei num táxi e rumei para casa.


Adeus, mundo cruel!

E lá fui eu, sentindo-me como a menos desejada das criaturas, sapato velho. Quando ainda estava no meio do caminho, pude rir sozinha do ridículo de tudo aquilo.

Talvez eu ainda tivesse, sim, algum poder, mas já não dava, nem de longe, para encarar este mercado de esterótipos da beleza. Para ser mais justa, fiz até sucesso com um turistas russos e portugueses, e com uma moça, que tentou de todo jeito sair de lá comigo. O mundo e muitos homens (mulheres costumam ser bem mais generosas) e os comerciais e os filmes têm esta mania de decidir o dia em que a mulher não será mais fuckable, ou transante, ou desejada.

Oh, yes.

Mas um segredinho que esse pessoal aí não conhece é que as mulheres continuam desejando - e muito. Não vou negar que deu uma boa pontada não despertar a atenção do gatinho sub-30. Adoraria. Mas me deu - tal como as moças do vídeo - um alívio de ter alguma autonomia nisso tudo. De não precisar fazer mais tantas caras e bocas e poder ser apenas eu. Uma eu velha - ou nem tanto - mas cheia de amor para dar e receber.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Com amor, para Isis Valverde



Querida Isis, Tudo bem?

Lemos aqui no nosso Facebook (se você não conhece, sugerimos!) uma reportagem que trazia uma declaração sua bem esquisita: “é óbvio que deseja se casar, até porque “você já viu mulher que não pensa em casar? Se mulher diz que não quer casar, está mentindo”.

Era sério?

A gente é jornalista e sabe que jornal é que nem linguiça (ops!) e tudo mais, mas, enfim, considerando que você falou, como somos suas fãs, queríamos só convidá-la para uma conversa.

Pois é o seguinte: a gente odeia estereótipo e você, linda, atriz competente e bem sucedida, temos certeza, detesta também. Até os anos 60 - e lá se vão quase 60 anos - as mulheres não tinham mesmo muita oportunidade.

 Sobreviver significava ter pai rico ou casar, ou a duas coisas. Ali - e só ali - fazia sentido dizer que todas estavam à espera do grande dia do matrimônio. Você já pensou que tem gente que gosta de cachorro e de gato? Tem até quem curta sorvete de pistache em vez de dulce de leche da Hagen Daas. Tem a galera que se veste de preto, mulher de cabelo curto e comprido, mulher que gosta de mulher, de garotão, de homem que se veste de mulher. Já pensou imaginar que toda mulher - todinha - quer casar? Oi???? Qual seria o motivo de tamanha preferência interplanetária?

Casamento é difícil pacas, muito mais que vestido de noiva e bem-casado de ovos moles. E os lares se destroem por inúmeras razões, sabe Ísis? Eles se destroem pelo tempo, pela convivência, pela falta de grana, pelas manias que no começo achamos lindas mas que no fim das contas não suportamos mais no outro, os lares se destroem por razões que às vezes as pessoas mal sabem explicar. A verdade é que eles são tão sólidos quanto tudo o mais que existe nesse universo: não existe permanência em nada nessa vida, que dizer das relações humanas? Nem toda mulher quer casar, essa é que é a verdade.



Aqui, temos amigas que sempre foram solteiras e assim pretendem seguir (ou não?); tem quem sonhe com o tal vestido branco, tem quem já tenha sonhado e quer mais é jogar o vestido branco numa fogueira. Temos amigas que casaram, estão casadas e afirmam categoricamente: se me separar, não me caso nunca mais. Umas que parecem princesas da Disney até. Ah, e tem as que não querem ter filhos em hipótese alguma. E, olha, essa diversidade é bem bacana.

Casamentos começam, casamentos acabam; assim como séries do Netflix. As pessoas têm se separado mais e mais, embora continuem sim, se casando também. Então, por que persistimos nesta demanda do sonho do casamento? No valor da mulher casada x solteira desesperada?

Veja bem, cara Ísis, não nos leve a mal, apenas achamos que você anda mal informada e meio mal acompanhada. Você é muito mais!

Luv, Mulheres Rodadas

quinta-feira, 16 de abril de 2015

A primeira rodada

Galera linda e rodopiante, agora toda quinta-feira (uhu!!), é dia de texto rodado. Pois, para começar, duas vezes a primeira vez. E a sua, ainda se lembra? como foi? (Ficou meio grande aqui, mas a gente vai providenciar um blog mais decente em breve.) 




Foi hoje o dia... da alegria

Como faço todos os anos, hoje comemoro uma data muito especial (ok, para mim apenas). Há 22 anos, no dia 16 de abril de 1993, eu transei pela primeira vez. Para falar a verdade, eu mal lembro se dei neste dia ou se marquei este dia porque era uma data especial do namoro. Quando completei uma e duas décadas, saí para jantar e tudo, com um dos meus melhores amigos - que não foi para quem eu "dei" - para rir de tudo que veio depois.

Lembro-me de alguns momentos da noite com clareza e, faz alguns meses, depois de anos, passei em frente ao local. O curioso é que não saberia dizer a roupa que usava, mas lembro, sim, da blusa azul royal estampada da minha melhor amiga. Ela namorava o melhor amigo dele e estava no quarto ao lado, cuidando de sua própria vida. Eu tinha 15 anos, mas sempre conto que só transei com 16.

Meses antes de "O DIA DA PRIMEIRA VEZ", minha mãe, uma legítima mãe compreensiva, havia me levado ao ginecologista. Uma mulher loira pintada e esticada, a qual foram também várias outras amigas. Ela me indicou a pílula Diane, com intervalos regulares a cada ano, "para descansar a menstruação". O gasto com o medicamento saía das nossas mesadas; 8 reais para cada um. Antecedendo a visita à médica, minha mãe havia me chamado para uma conversa constrangedora em que me explicou - ou achou que me explicou - como funcionavam as coisas.

Pelo visto, não entendi nada.

No tal dia, estava com meu namorado e, depois de alguns amassos (ainda se diz amasso?), tiramos a roupa, que ficou ao lado da cama de solteiro. "Fecha a cortina, fecha a cortina", eu alertei. "Não estamos fazendo barulho?" "E se minha mãe ligar?" (em 1993, nem celular existia). Eu estava com tanto medo de transar, de engravidar, de pegar Aids, de pegar HPV, de doer, de pegar sei lá mais o quê que só me lembro do final, com o sangue sujando a calcinha, logo depois que acabou e fui correndo fazer xixi.

Fato: não há memória seletiva que ajude; foi uma bosta.

E isso não porque tenha faltado sentimento, carinho, cuidado ou destreza. Foi ruim porque, a não ser que sua vida sexual seja horrorosa, a primeira vez será sempre pior que as demais (a primeira vez em que andou de bicicleta; que fez um brigadeiro ou uma equação de segundo grau).

Na época, fiz uma lista de tudo que tinha saído fora do esperado. Além de questões anatômicas, achava que ia sentir algo jorrando em mim quando ele gozasse (importante: por total ignorância, não sabíamos que era fundamental usar camisinha, ainda valia a regra do "namorado fixo é seguro", #sqn). Acreditava que o ato se tratava apenas de uma penetração (e não do entra e sai), e, mais importante, achava que era só meter para que nós, mulheres, víssemos estrelas e gozássemos por todos os minutos seguintes. Ninguém me contou sobre o orgasmo nesses termos.

Aquilo que vivi ali não tinha nada da especialidade que me haviam propagandeado.

Mas a vida é bela e, mesmo com todas essas confusões, cheguei em casa vendo as tais estrelas. Deitei na cama e fui suspirar, escrever no diário, fazer corações com os nossos nomes e imaginar como seria meu sobrenome de casada (??!!). Tudo estava bem até que o pai compreensivo, marido da mãe compreensiva, surge no quarto, sete horas da manhã do dia seguinte, falando firme e seguro, sem berrar:

"Sua mãe está viajando, mas fiz questão de ligar para ela ontem. Descobri que você está tomando pílula e quero deixar claro que isso é uma burrice sua: quem sempre vai pagar o preço maior por estar cometendo esse ato é você, porque para o homem é muito fácil, e você... você é uma mulher."

Engoli a seco. Meu pai nunca havia se metido nessa seara da minha vida. Nunca proibiu namoro, bebia um tanto de cerveja, ria da vida. E lá estava ele, machíssimo, bradando contra a pílula que eu escondia numa caixinha desenhada com uma sapatilha rosa.

Não soube o que dizer, não me veio a boa resposta. Apenas disse: "minha mãe sabia".

Os anos se passaram, a segunda, a terceira e a milésima vez foram muito melhores, mesmo eu não conseguindo, por anos, gozar apenas com a penetração "tradicional". Nunca mais soube do meu então namorado, meu pai deve ter se arrependido pacas e nem está mais aqui para eu perguntar e me juntei (e tive filhos) sem trocar jamais o sobrenome. Em uma coisa, reconheço, meu pai tinha razão: não foi fácil. E isso não porque eu SOU uma mulher, mas porque, por ser mulher, o mundo me tratou de forma preconceituosa e, até mesmo, cruel. Ele foi um dos primeiros a fazê-lo.

A despeito disso tudo, o bom, mas o bom mesmo, é hoje lembrar feliz da história da minha primeira vez. Ali começou uma trajetória bonita e divertida de trocas de afetos e líquidos. Se não a melhor, das melhores coisas da vida.

*********************

Foi em 2 de dezembro de 1992. Não lembro se estávamos sozinhos na casa dos pais dele ou não. Essa informação era muito importante, pois raramente conseguíamos ficar a sós. Adolescentes, namorados há meses, já havíamos sido flagrados algumas vezes fazendo “coisinhas” debaixo dos cobertores, e nossos pais acreditavam firmemente que nos monitorar adiantaria alguma coisa, leia-se: nos impediria de transar, o que acarretaria em coisa ainda pior: eu deixaria de ser vir-gem!

É, parece que é isso mesmo! Ao transar, perde-se a virgindade.Mas, sobre a minha primeira vez, fui extremamente responsável com meu corpo, minha cabeça, e tenho muito orgulho disso. Por causa da minha atitude, não tenho problemas em dizer que transei aos 15 anos.
Tentei, eu juro, conversar com a minha mãe. Disse que precisava ir “ao médico”. Ela reagiu muito mal, disse que iria consultar o meu pai. A resposta veio uns dias depois. “Sozinha você não vai ao ginecologista de jeito nenhum”, sentenciou a porta-voz do meu pai.

Difícil explicar que mutação estranha acontece na cabeça de alguns pais durante a adolescência dos filhos, mais complicado ainda encarar o machismo que ainda predomina nessas relações.

Então, minha mãe realmente acreditava que eu não iniciaria minha vida sexual por que ela não estava a fim? Eles resolveram se afastar, os dois, em um momento crucial, mas essa é outra parte importante, e bem mais dolorida da minha vida, sobre a qual prefiro falar (ou não).

Anos mais tarde, quando meu irmão caçula estava na adolescência, abri a gaveta do banheiro da mesma casa onde eu tinha morado desde sempre. Nada tinha mudado. Mas encontrei algumas camisinhas espalhadas, que certamente foram compradas por minha mãe.

Tive que juntar a grana de que precisava. Marquei um horário. O médico era um homem baixinho e careca, que me deu as informações necessárias e realizou aquele exame com o qual, não, a gente não se acostuma. Comecei a tomar a pílula. E esperei um mês, já que assim me foi recomendado, para que finalmente pudesse fazer com tranqüilidade o que desejava há meses. Mas foi realmente uma longa trajetória.

Ela começou muito antes daqueles inacreditáveis dez meses de namoro em que eu e ele, virgens e inexperientes, jogamos um xadrez delicioso cheio de avanços e retrocessos. Ali, cada movimento era saboreado. Ao contrário de muitas meninas, embora jamais falasse de masturbação com minhas amigas, já tinha tido muitos orgasmos por minha conta: lembro de brincar com o chuveirinho do banheiro com o quê, uns três ou quatro anos. Teve a escova de cabelo, e foi assim que gozei pela primeira vez aos nove.

Eu e meu namorado fomos liberando, pouco a pouco, cada parte dos nossos corpos para o acesso um do outro, numa velocidade que só é possível de se compreender à luz dos 14 anos. Lembro de detalhes: as primeiras vezes em que ele levantou meu sutiã, em que eu coloquei a mão em seu pau duro, e, finalmente, o dia em que ele perguntou: “quer transar comigo?”.




Foi bonitinho, e, sim, muito gostoso. Não senti nenhuma dor. E gozei na primeira vez. Achei que a vida seria assim, fácil. Não tenho lembrança de sangue algum, só do prazer imenso que senti e do quão apaixonada estava. Paixão que durou vinte e um anos, me deu dois filhos, me levou a morar longe do mar para brincar de ser uma mulher que eu já não podia mais ser, e de, por fim, viver um inferno quando esse amor acabou.

Mas, calma. Basta respirar um pouco. Essa história não tem final triste. Porque, eu tive 15 anos de novo há muito pouco tempo.

E descobri que primeira vez a gente pode ter várias, e que essa é uma viagem para quem tem disposição, e que só acaba, quando termina... A primeira trepada depois de meses de pranto intenso; a primeira vez em que se apanha, amarrada; o primeiro ménage; a primeira suruba; a primeira vez em que se vai para a casa de um desconhecido dar lindamente para ele a noite inteira; a primeira vez no meio da rua; a primeira vez com uma garota de programa que te chama de puta; a primeira vez sem querer saber o nome do sujeito; a primeira vez com um cara 15 anos mais novo; a primeira vez com um cara 15 anos mais velho; a primeira vez com uma mulher; a primeira vez com duas mulheres; a primeira paixão platônica...

Essa, que chega e fica, aleluia!, e nos mostra que o último amor, e o último trago, são apenas mentiras que gostamos de contar, tão infactíveis quanto o último orgasmo.

sábado, 11 de abril de 2015

Ei, moç@, você é feminista



É com você, sim, moça, moço! Você, aí! Não se aborreça com a gente, por favor.
Ouça esta história. Foi numa reunião, quando uma super mulher, profissional idolatrada, livre de pensamento, defensora das causas, mãe virou-se e bradou: "opa, eu não sou feminista!". Tomei um susto. Logo ela? Esta semana, teve mais. Uma das nossas vlogueiras do coração também enfatizou que o feminismo não era coisa sua.
Diante de tanta evidência, deu-se o clique: há algo de errado.
Em uma palestra para estudantes, de uns 150 alun@s que povoavam a plateia, apenas 30 levantaram o braço quando perguntad@s se eram feministas. Mas 100% concordaram que uma mulher, que estudou o mesmo tempo, nos mesmos colégios que um homem, não pode ter um salário menor que o dele (pasmem, isso acontece em todas as carreiras); e 100% - 1 concordaram que os homens deveriam dividir igualmente os cuidados e as tarefas domésticas.
Nossa conclusão: querendo ou não, somos muito mais feministas que imaginamos.
Há 40 anos, ser feminista era muito bacana; as feministas lutavam e ganhavam pontos em vários círculos sociais. Só perdiam mesmo entre @s conservador@s que, convenhamos, não interessam a ninguém. Já há 20 anos, era o pior que uma mulher poderia fazer para si mesma, afinal, as feministas "são muito chatas, não depilam o suvaco, usam roupas feias, não querem homens por perto (sic)".
O pior: essa visão cheia de estigma colou.
Mas, caso ainda ache que isso é ser feminista, saiba: você se engana. Ser feminista pode ser simplesmente querer para as mulheres os mesmos direitos que os homens: direito às tarefas domésticas compartilhadas, aos cuidados com @s filh@s compartidos, a oportunidades iguais de emprego, a não ser violentada ou morta pelo simples fato de ser mulher.
Se também defende isso, bem-vind@ ao clube.


Os feminismos, como se diz hoje em dia, são - podem e devem ser - muitos. Há feministas que preferem ações exclusivamente com mulheres, feministas que defendem roupas curtas, que querem liberdade para transar.Há grupos de feministas negras, há as que apoiam a legalização da prostituição, as que são contra. Há feministas lésbicas, transsexuais e mães de filh@s e cachorros. Existem até feministas no catolicismo e no islã. E, claro, há homens - muitos - feministas.
Assim, por mais que tentem sequestrar o feminismo e trancá-lo numa caixa, apontando ao mundo quem é ou não feminista, quem pode ou não ser feminista, somos aqui da tese de que é hora de todas as pessoas de bem se reapropriarem das lutas pelos direitos das mulheres.
Fazemos, pois, um convite: onde será que está nosso mínimo denominador comum?
Deixemos que os machistas, os conservadores, os hipócritas nos xinguem, nos condenem. Eles vão ficar lá, no passado passando. E nós, feministas e orgulhos@s de nós mesm@s, vamos seguir, cada uma com sua bandeira, de braços dados.

(Texto: Debora Thome e Renata Rodrigues - Imagens: Renata Vidal)