quinta-feira, 16 de abril de 2015

A primeira rodada

Galera linda e rodopiante, agora toda quinta-feira (uhu!!), é dia de texto rodado. Pois, para começar, duas vezes a primeira vez. E a sua, ainda se lembra? como foi? (Ficou meio grande aqui, mas a gente vai providenciar um blog mais decente em breve.) 




Foi hoje o dia... da alegria

Como faço todos os anos, hoje comemoro uma data muito especial (ok, para mim apenas). Há 22 anos, no dia 16 de abril de 1993, eu transei pela primeira vez. Para falar a verdade, eu mal lembro se dei neste dia ou se marquei este dia porque era uma data especial do namoro. Quando completei uma e duas décadas, saí para jantar e tudo, com um dos meus melhores amigos - que não foi para quem eu "dei" - para rir de tudo que veio depois.

Lembro-me de alguns momentos da noite com clareza e, faz alguns meses, depois de anos, passei em frente ao local. O curioso é que não saberia dizer a roupa que usava, mas lembro, sim, da blusa azul royal estampada da minha melhor amiga. Ela namorava o melhor amigo dele e estava no quarto ao lado, cuidando de sua própria vida. Eu tinha 15 anos, mas sempre conto que só transei com 16.

Meses antes de "O DIA DA PRIMEIRA VEZ", minha mãe, uma legítima mãe compreensiva, havia me levado ao ginecologista. Uma mulher loira pintada e esticada, a qual foram também várias outras amigas. Ela me indicou a pílula Diane, com intervalos regulares a cada ano, "para descansar a menstruação". O gasto com o medicamento saía das nossas mesadas; 8 reais para cada um. Antecedendo a visita à médica, minha mãe havia me chamado para uma conversa constrangedora em que me explicou - ou achou que me explicou - como funcionavam as coisas.

Pelo visto, não entendi nada.

No tal dia, estava com meu namorado e, depois de alguns amassos (ainda se diz amasso?), tiramos a roupa, que ficou ao lado da cama de solteiro. "Fecha a cortina, fecha a cortina", eu alertei. "Não estamos fazendo barulho?" "E se minha mãe ligar?" (em 1993, nem celular existia). Eu estava com tanto medo de transar, de engravidar, de pegar Aids, de pegar HPV, de doer, de pegar sei lá mais o quê que só me lembro do final, com o sangue sujando a calcinha, logo depois que acabou e fui correndo fazer xixi.

Fato: não há memória seletiva que ajude; foi uma bosta.

E isso não porque tenha faltado sentimento, carinho, cuidado ou destreza. Foi ruim porque, a não ser que sua vida sexual seja horrorosa, a primeira vez será sempre pior que as demais (a primeira vez em que andou de bicicleta; que fez um brigadeiro ou uma equação de segundo grau).

Na época, fiz uma lista de tudo que tinha saído fora do esperado. Além de questões anatômicas, achava que ia sentir algo jorrando em mim quando ele gozasse (importante: por total ignorância, não sabíamos que era fundamental usar camisinha, ainda valia a regra do "namorado fixo é seguro", #sqn). Acreditava que o ato se tratava apenas de uma penetração (e não do entra e sai), e, mais importante, achava que era só meter para que nós, mulheres, víssemos estrelas e gozássemos por todos os minutos seguintes. Ninguém me contou sobre o orgasmo nesses termos.

Aquilo que vivi ali não tinha nada da especialidade que me haviam propagandeado.

Mas a vida é bela e, mesmo com todas essas confusões, cheguei em casa vendo as tais estrelas. Deitei na cama e fui suspirar, escrever no diário, fazer corações com os nossos nomes e imaginar como seria meu sobrenome de casada (??!!). Tudo estava bem até que o pai compreensivo, marido da mãe compreensiva, surge no quarto, sete horas da manhã do dia seguinte, falando firme e seguro, sem berrar:

"Sua mãe está viajando, mas fiz questão de ligar para ela ontem. Descobri que você está tomando pílula e quero deixar claro que isso é uma burrice sua: quem sempre vai pagar o preço maior por estar cometendo esse ato é você, porque para o homem é muito fácil, e você... você é uma mulher."

Engoli a seco. Meu pai nunca havia se metido nessa seara da minha vida. Nunca proibiu namoro, bebia um tanto de cerveja, ria da vida. E lá estava ele, machíssimo, bradando contra a pílula que eu escondia numa caixinha desenhada com uma sapatilha rosa.

Não soube o que dizer, não me veio a boa resposta. Apenas disse: "minha mãe sabia".

Os anos se passaram, a segunda, a terceira e a milésima vez foram muito melhores, mesmo eu não conseguindo, por anos, gozar apenas com a penetração "tradicional". Nunca mais soube do meu então namorado, meu pai deve ter se arrependido pacas e nem está mais aqui para eu perguntar e me juntei (e tive filhos) sem trocar jamais o sobrenome. Em uma coisa, reconheço, meu pai tinha razão: não foi fácil. E isso não porque eu SOU uma mulher, mas porque, por ser mulher, o mundo me tratou de forma preconceituosa e, até mesmo, cruel. Ele foi um dos primeiros a fazê-lo.

A despeito disso tudo, o bom, mas o bom mesmo, é hoje lembrar feliz da história da minha primeira vez. Ali começou uma trajetória bonita e divertida de trocas de afetos e líquidos. Se não a melhor, das melhores coisas da vida.

*********************

Foi em 2 de dezembro de 1992. Não lembro se estávamos sozinhos na casa dos pais dele ou não. Essa informação era muito importante, pois raramente conseguíamos ficar a sós. Adolescentes, namorados há meses, já havíamos sido flagrados algumas vezes fazendo “coisinhas” debaixo dos cobertores, e nossos pais acreditavam firmemente que nos monitorar adiantaria alguma coisa, leia-se: nos impediria de transar, o que acarretaria em coisa ainda pior: eu deixaria de ser vir-gem!

É, parece que é isso mesmo! Ao transar, perde-se a virgindade.Mas, sobre a minha primeira vez, fui extremamente responsável com meu corpo, minha cabeça, e tenho muito orgulho disso. Por causa da minha atitude, não tenho problemas em dizer que transei aos 15 anos.
Tentei, eu juro, conversar com a minha mãe. Disse que precisava ir “ao médico”. Ela reagiu muito mal, disse que iria consultar o meu pai. A resposta veio uns dias depois. “Sozinha você não vai ao ginecologista de jeito nenhum”, sentenciou a porta-voz do meu pai.

Difícil explicar que mutação estranha acontece na cabeça de alguns pais durante a adolescência dos filhos, mais complicado ainda encarar o machismo que ainda predomina nessas relações.

Então, minha mãe realmente acreditava que eu não iniciaria minha vida sexual por que ela não estava a fim? Eles resolveram se afastar, os dois, em um momento crucial, mas essa é outra parte importante, e bem mais dolorida da minha vida, sobre a qual prefiro falar (ou não).

Anos mais tarde, quando meu irmão caçula estava na adolescência, abri a gaveta do banheiro da mesma casa onde eu tinha morado desde sempre. Nada tinha mudado. Mas encontrei algumas camisinhas espalhadas, que certamente foram compradas por minha mãe.

Tive que juntar a grana de que precisava. Marquei um horário. O médico era um homem baixinho e careca, que me deu as informações necessárias e realizou aquele exame com o qual, não, a gente não se acostuma. Comecei a tomar a pílula. E esperei um mês, já que assim me foi recomendado, para que finalmente pudesse fazer com tranqüilidade o que desejava há meses. Mas foi realmente uma longa trajetória.

Ela começou muito antes daqueles inacreditáveis dez meses de namoro em que eu e ele, virgens e inexperientes, jogamos um xadrez delicioso cheio de avanços e retrocessos. Ali, cada movimento era saboreado. Ao contrário de muitas meninas, embora jamais falasse de masturbação com minhas amigas, já tinha tido muitos orgasmos por minha conta: lembro de brincar com o chuveirinho do banheiro com o quê, uns três ou quatro anos. Teve a escova de cabelo, e foi assim que gozei pela primeira vez aos nove.

Eu e meu namorado fomos liberando, pouco a pouco, cada parte dos nossos corpos para o acesso um do outro, numa velocidade que só é possível de se compreender à luz dos 14 anos. Lembro de detalhes: as primeiras vezes em que ele levantou meu sutiã, em que eu coloquei a mão em seu pau duro, e, finalmente, o dia em que ele perguntou: “quer transar comigo?”.




Foi bonitinho, e, sim, muito gostoso. Não senti nenhuma dor. E gozei na primeira vez. Achei que a vida seria assim, fácil. Não tenho lembrança de sangue algum, só do prazer imenso que senti e do quão apaixonada estava. Paixão que durou vinte e um anos, me deu dois filhos, me levou a morar longe do mar para brincar de ser uma mulher que eu já não podia mais ser, e de, por fim, viver um inferno quando esse amor acabou.

Mas, calma. Basta respirar um pouco. Essa história não tem final triste. Porque, eu tive 15 anos de novo há muito pouco tempo.

E descobri que primeira vez a gente pode ter várias, e que essa é uma viagem para quem tem disposição, e que só acaba, quando termina... A primeira trepada depois de meses de pranto intenso; a primeira vez em que se apanha, amarrada; o primeiro ménage; a primeira suruba; a primeira vez em que se vai para a casa de um desconhecido dar lindamente para ele a noite inteira; a primeira vez no meio da rua; a primeira vez com uma garota de programa que te chama de puta; a primeira vez sem querer saber o nome do sujeito; a primeira vez com um cara 15 anos mais novo; a primeira vez com um cara 15 anos mais velho; a primeira vez com uma mulher; a primeira vez com duas mulheres; a primeira paixão platônica...

Essa, que chega e fica, aleluia!, e nos mostra que o último amor, e o último trago, são apenas mentiras que gostamos de contar, tão infactíveis quanto o último orgasmo.

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