quinta-feira, 30 de abril de 2015

O dia em que você descobre: deixei de ser transante (ou quase)



Pode acontecer com qualquer uma, pode acontecer num ensaio de escola de samba, numa boate lotada, numa festa familiar. Mas sempre tem aquele dia em que a ficha cai e você descobre que seu valor no cruel mercado da azaração está igual às ações da Petrobras: em franca decadência.


E isso acontece até com as atrizes hollywoodianas, que passam de gementes mocinhas a balzacas mamães (ou tipo Adriana Esteves, a moça do lençol em Renascer, como mãe de Sophie Charlotte). Chega aos poucos, mas a evidência normalmente se dá em rodinhas de conversa.

Gatinhas: não dá para competir com elas

As meninas de 20, 20 e poucos passam a ser o centro das atenções com seus cabelos esvoaçantes, brilho no olhar, pele e pernocas perfeitas, nenhum pé de galinha e todas as informações sobre a festa maneira, o livro da onda e o novo gadget-mais-que-tudo.

Comigo a evidência se deu numa sexta à noite, num barzinho. Enquanto minha amiga (casada) gastava as horas enchendo muito a cara de cerveja, eu estava no meu momento beber, mas também checar os bofes ao redor. Olhando quem passava, eu estava lá, em pé, na calçada, meio sozinha e meio acompanhada. Conversei com muita gente mais ou menos interessante. Exibi meus conhecimentos de cultura e línguas, exalei alguma animação.

Mas, confesso, tinha uma preferência clara: um jovenzinho (ou nem tão jovem assim) colega de profissão. Dei então um jeito de me aproximar. O sujeito deu papo - ou assim entendi. E até ficou muito surpreso quando se deu conta de que eu era uma mulher rodada. Ali, seguindo meus instintos até então válidos, pensei: 'tá no jogo'. Só que não.

O tempo passou, ele me admirou, elogiou, mas foi mesmo pedir o telefone de umas meninas de 20 anos que estavam do outro lado da rua. De minha parte, fui procurar minha amiga que tinha sumido pela centésima vez, puta, a enfiei num táxi e rumei para casa.


Adeus, mundo cruel!

E lá fui eu, sentindo-me como a menos desejada das criaturas, sapato velho. Quando ainda estava no meio do caminho, pude rir sozinha do ridículo de tudo aquilo.

Talvez eu ainda tivesse, sim, algum poder, mas já não dava, nem de longe, para encarar este mercado de esterótipos da beleza. Para ser mais justa, fiz até sucesso com um turistas russos e portugueses, e com uma moça, que tentou de todo jeito sair de lá comigo. O mundo e muitos homens (mulheres costumam ser bem mais generosas) e os comerciais e os filmes têm esta mania de decidir o dia em que a mulher não será mais fuckable, ou transante, ou desejada.

Oh, yes.

Mas um segredinho que esse pessoal aí não conhece é que as mulheres continuam desejando - e muito. Não vou negar que deu uma boa pontada não despertar a atenção do gatinho sub-30. Adoraria. Mas me deu - tal como as moças do vídeo - um alívio de ter alguma autonomia nisso tudo. De não precisar fazer mais tantas caras e bocas e poder ser apenas eu. Uma eu velha - ou nem tanto - mas cheia de amor para dar e receber.

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